TRABALHO ACEITO: VIII COPENE BELÉM/PA - PESQUISADORES NEGROS

RE-MITOLOGIZAÇÃO DAS ARTES MARCIAIS: um estudo a partir da capoeira angola
submetido como trabalho completo
Fabio José Cardias Gomes

O trabalho objetivou compreender, reafirmar e ampliar três dimensões educativas marciais a partir da trajetória de praticantes - um mestre e um contramestre - da linhagem de capoeira angola de Mestre Gato Preto (1929-2002). Os caminhos teórico-metodológicos envolvidos nesta pesquisa foram entrevistas de história de vida entre discípulos formados com relação ao seu itinerário de formação e cotidiano no estilo. As entrevistas foram realizadas em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, e na Universidade de São Paulo, Butantan, São Paulo, no ano de 2011-2012. Os dados foram analisados de acordo com nossas referências principais da capoeira, como Abreu (2003), Araújo (1999, 2004), dentre outros, e da antropologia do imaginário como Bachelard (1994), Gusdorf (1995), Durand (1988, 2002) e Ferreira-Santos (1998, 2005), e autores convergentes. Os resultados permitiram: (1) início, árduo, da construção da biografia de Mestre Gato, sua escola de capoeira e influências e (2) sistematização de três dimensões educativas dos caminhos das artes marciais, incluindo a capoeira como arte (dança, luta, política) marcial, como segue: (A) técnica-estética, (B) ética-filosófica e (C) mitopoética, que já se encontravam de forma esparsa e variada na literatura da capoeira e nas artes marciais orientais. Nesta comunicação enfatiza-se a compreensão das tríades, como inerentes à lógica da capoeira, e que se aproximam de culturas marciais diferentes, o que possibilitam o estudo das artes marciais comparadas. É partir dos autores japoneses, por exemplo, que o conceito de ShuHaRi: “imitar-romper-transcender”, disponível como elemento teórico não encontrado na literatura brasileira, inspirou a concepção do modelo trilógico proposto: TEMPO. Ainda em resultados, reafirmou-se a presença das três dimensões pedagógicas (técnica, filosófica e mito-poética) na capoeiraao ampliar-se a importância da (a) oralidade, (b) da maestria, (c) do discipulado, e, portanto, da (d) da ancestralidade da capoeira como modo de educação não formal. Concluiu-se que é a terceira dimensão, da mitopoésis, aquela que deve ser ampliada na política atual da capoeira tradicional, ou seja, suas narrativas míticas, imaginárias e simbólicas da letra e do corpo. Pesquisas derivadas e futuras poderão contribuir mais com a re-mitologização da capoeira, se almejada a salvaguarda da sua etnomotricidade e espiritualização, fracionadas e reduzidas ao longo dos tempos modernos, em prol dos modelos racionalizantes, ou, sob a luz brilhante e ofuscante da esportivização, na lógica da cultura hegemônica.

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